terça-feira, 7 de abril de 2020




                                   Maculelê

O Maculelê é uma manifestação cultural oriunda cidade de Santo Amaro da Purificação – Bahia, berço também da capoeira. É uma expressão teatral que conta através da dança e de cânticos, a lenda de um jovem guerreiro, que sozinho conseguiu defender sua tribo de outra tribo rival usando apenas dois pedaços de pau, tornando-se o herói da tribo.
Sua origem é desconhecida. Uns dizem que é africana, outros afirmam que ela tenha vindo dos índios brasileiros e há até quem diga que é uma mistura dos dois. O próprio Mestre Popó do Maculelê, considerado o pai do maculelê, deixa clara a sua opinião de que o maculelê é uma invenção dos escravos no Brasil, assim como a capoeira.
A lenda da qual teria surgido o maculelê possui também várias versões.
Em uma delas conta-se que Maculelê era um negro fugido que tinha doença de pele. Ele foi acolhido por uma tribo indígena e cuidado por eles, mas ainda assim não podia realizar todas as atividades com o grupo, por não ser um índio. Certa vez Maculelê foi deixado sozinho na aldeia, quando toda a tribo saiu para caçar. Eis que uma tribo rival aparece para dominar o local. Maculelê, usando dois bastões, lutou sozinho contra o grupo rival e, heroicamente, venceu a disputa. Desde então passou a ser considerado um herói na tribo.
Outra lenda fala do guerreiro indígena Maculelê, um índio preguiçoso e que não fazia nada certo; por esta razão, os demais homens da tribo saíam em busca de alimento e deixavam-no na tribo com as mulheres, os idosos e as crianças. Uma tribo rival ataca, aproveitando-se da ausência dos caçadores. Para defender a sua tribo, Maculelê, armado apenas com dois bastões já que os demais índios da sua tribo haviam levado todas as armas para caçar, enfrenta e mata os invasores da tribo inimiga, morrendo pelas feridas do combate. Maculelê passa a ser o herói da tribo e sua técnica reverenciada.
Conta outra lenda que a encenação do Maculelê baseia-se em um episódio épico ocorrido numa aldeia primitiva do reino de Ioruba, em que, certa vez, saíram os guerreiros juntos para caçar, permanecendo na aldeia apenas 22 homens, na maioria idosa, junto das mulheres e crianças. Disso aproveitou-se uma tribo inimiga para atacar, com maior número de guerreiros. Os 22 homens remanescentes teriam então se armado de curtos bastões de pau e enfrentado os invasores, demonstrando tanta coragem que conseguiram colocá-los em debandada. Quando retornaram os outros guerreiros, tomaram conhecimento do ocorrido e promoveram grande festa, na qual os 22 homens demonstraram a forma pela qual combateram os invasores. O episódio passou então a ser comemorado freqüentemente pelos membros da tribo, enriquecido com música característica e movimentos corporais peculiares. A dança seria assim uma homenagem à coragem daqueles bravos guerreiros.
Podemos ver que a primeira lenda indica a mistura da cultura africana com a indígena quando se diz que um “negro fugido” é acolhido por uma “tribo indígena”. Na outra já não há a menção de negro fugido ou escravo, o protagonista era o “índio preguiçoso”. Indicação da origem indígena. E por fim, na terceira versão diz que o episódio aconteceu em uma “aldeia primitiva no reino de Ioruba”. Indicação de origem africana.
Há muitas outras versões de lendas sobre o Maculelê, mas todas sustentam a versão de um guerreiro sozinho, enfrentando a invasão inimiga com apenas dois bastões.
Por muito tempo o maculelê foi apresentado nas ruas e praças da cidade, nos dias de festa da padroeira conforme Mestre Popó, explica com suas próprias palavras em uma entrevista cedida à Maria Mutti em 16/12/1968 em Santo Amaro – Bahia:
“Segundo Mestre Popó, Maculelê é luta e dança ao mesmo tempo, se um feitor aparecia na senzala à noite, pensava que era a maneira de adoração aos deuses das terras deles (dos negros escravos), as músicas não davam ao feitor entender o que eles cantavam.
A festa era realizada de 8 de dezembro (consagração de Nossa Senhora da Conceição) e 2 de fevereiro (dia de Yemanjá) em Santo Amaro da Purificação. Acontecia nas praças e nas ruas da cidade e era considerada uma festa profana'' realizada pelos negros escravos.
“Em marcha guizada, a Marcha de Angola’’, que tem algo de Capoeira e de Samba, tudo isso em Movimentos sempre ao compasso das batidas das grimas (bastões).”

Mestre Popó do Maculelê

No início do século XX, com a morte dos mestres do Maculelê, a manifestação deixou de acontecer por muitos anos, até que em 1943, Paulino Aluísio de Andrade, o Mestre Popó do Maculelê, resolve reunir parentes e amigos para ensinar a dança baseado em suas antigas lembranças. Consegue então resgatar o Maculelê e forma o Conjunto de Maculelê de Santo Amaro o qual ganhou grande fama. Mestre Popó começou a aprender o Maculelê com um grupo de pretos velhos, ex-escravos Malês, livres. Segundo ele já não tinha mais escravidão nessa época e eles se reuniam à noite: João Oléa, Tia Jô e Zé do Brinquinho: "eles eram livres, mas quem botou o Maculelê fui eu mesmo" (Popó).
Segundo Plínio de Almeida (Pequena História do Maculelê) o Maculelê existe desde 1757 em Santo Amaro da Purificação e as cores branca e vermelha nos rostos, que assustavam as pessoas, poderia ser símbolos de algumas tribos Africanas, como por exemplo, os Iorubas. Mas na verdade fica muito difícil identificar exatamente à qual grupo étnico está associado à origem do Maculelê. Podemos citar, por exemplo: os Cabindas, os Gêges, os Angolas os Moçambiques, os Congos, os Minas, os Cababas.

Instrumentos

O instrumento fundamental no maculelê é o atabaque. Na época de Mestre Popó eram usados três atabaques seguindo a formação do candomblé. Outros instrumentos como o agogô e o ganzá também eram tocados durante a apresentação. Hoje vemos apresentações de maculelê, na maioria das vezes somente com o atabaque.

Indumentária e Pintura

Na época de Mestre Popó a indumentária era simples, de acordo com as condições cotidianas dos dançarinos. Geralmente usavam camisas e calças comuns aos africanos, de algodão cru e pés descalços.
Estes pintavam os rostos e as partes desnudas com tintas feitas com restos de fuligem de carvão ou de fundo de panelas. Exageravam na tintura vermelha que usavam na boca que era feita com sementes de urucum. Algumas pessoas do grupo empoavam suas cabeleiras com farinha de trigo, usavam touca nas cabeças ou lenço no pescoço. 

Cânticos

Muitos dos cânticos do maculelê, provém dos candomblés de caboclo, alguns das canções de escravos e outros até fazem menções à cultura indígena. Os cânticos acompanham o desenrolar da apresentação do maculelê. Cada parte da encenação do maculelê tem a sua cantiga certa que acompanha. São muitos os cânticos do maculelê e cada grupo tem os seus prediletos. Eis alguns deles cantados antigamente na época de Mestre Popó:

Cântico para saudação:

Ô boa noite pra quem é de boa noite/Ô bom dia pra quem é de bom dia/A benção meu papai a benção/Maculelê é o rei da valentia.

Homenagem à Zumbi dos Palmares

Vamos todos louva/A nossa nação brasileira/Viva Zumbi dos Palmares /Ai meu Deus/Que nos livrou do cativeiro

Peditório: 
Ocorre nas saídas às ruas

Deus que lhe dê, ê/Deus que lhe dá, á/Lhe dê dinheiro/Como areia no mar.
Louvação aos pretos de Cabindas ou Louvor a Nossa senhora da Conceição:

Nós somos pretos da Cabinda de Aruanda/A Conceição viemos louvar/Aranda ê, ê, ê/Aranda ê, ê, á.

Fulô da Jurema, de influência indígena

Você bebeu Jurema/Você se embriagou/Com a fulô do mesmo pau/Vosmicê se levanto.

Saudação de chegada 

Ô sinhô dono da casa/Nós viemos aqui lhe vê/Viemos lhe pergunta/Como passa vosmicê
Saudação de despedida:
Quando eu for embora ê/Todo mundo chora ê. 
Em cena

Durante a apresentação do maculelê, os componentes, que representam a tribo rival, formam um círculo em volta de uma pessoa, que representa o herói. Todos sustentando um par de bastões nas mãos. O desenrolar da história é contado através dos cânticos que são respondidos em côro. Além do côro os componentes batem os bastões (grimas) no ritmo do atabaque que é tocado pelo mestre do maculelê.
O Maculelê hoje

Hoje o maculelê se mantém preservado graças à sua incorporação por grupos de capoeira, que incluíram a dança nas suas apresentações em batizados e festas populares. Os componentes se apresentam vestidos de saia de sisal, sem camisa e com pinturas pelo corpo. Há também alguns grupos que preferem se apresentar com seus abadás usuais, o que deixa evidente a sua descaracterização, o que deve ser evitado para que não percamos mais uma manifestação cultural através do esquecimento de suas raízes.
O maculelê faz parte do folclore brasileiro e deve ser preservado como patrimônio cultural, assim como a capoeira. Deve ser mantido e respeitado como tradição. Seja ela trazida por nossos irmãos africanos ou criada pelos nativos indígenas, a beleza do maculelê traz em si os traços da miscigenação cultural de um país onde a cultura é a mais rica do mundo, apesar de não receber o reconhecimento que merece.

Salve o Maculelê Salve Mestre Popó

Axé

Fonte: Google








Cia da capoeira
Mestre Paulinho Godoy 







Músicas de MaculelÊ
E
Puxada de Rede



O que é o Maculelê?

... e um dia uma aldeia foi atacada por uma tribo inimiga. Um índio chamado <>, defendeu sozinho as mulheres e crianças, usando como arma pedaços de pau, lutando até a morte. Sabendo da sua valentia e coragem, foi criada uma dança com bastões em sua homenagem, que guardou o seu nome: "Maculelê"

O que é a Puxada de Rede?

A  puxada de rede é uma das principais atividades da pesca do litoral nordestino. Apesar da industrialização, ainda existe hoje aldeias de pescadores que mantenham viva a puxada de rede de forma artesanal. A puxada de rede no teatro, mostra de forma cênica a vida e a realidade destes pescadores.

Como surgiu a Capoeira Regional?

1937 – Manoel dos Reis Machado o "Mestre Bimba" cria o "Centro de Cultura Física Regional da Bahia", onde ensina um novo tipo de jogo, mais rápido e objetivo, com treinamento sistemático de movimentos de ataque e defesa, que ele denominou de "Capoeira Regional".




Musicas de Puxada de Rede

Minha jangada vai sair pro mar
Vou trabalhar meu bem querer
Se Deus quiser quando eu voltar do mar
Um peixe bom, eu vou trazer
Meus companheiros também vão voltar
E a Deus do céu vamos agradecer

A deus a deus
Pescador não se esqueça de mim
Eu vou rezar pra ter bom tempo meu nego
Pra não ter tempo ruim
Eu vou fazer tua caminha macia
Perfumada de alecrim

Sou pescador moro nas ondas do mar
Também sou filho de iemanjá
Sou pescador moro nas ondas do mar
Também sou filho de iemanjá
Que coisa linda, é o céu e o mar
Nas noites de lua, pescador a mariscar

Vamos chamar o vento ê ô
Vamos chamar o vento ê ô

Migé,   Ogum
Migé,   Ogum

Chorou, chorou de fazer dó
Quando a jangada voltou só
Eu lhe disse ai meu bem Sereno
Que não fosse pro mar
Sereno (coro)
Ele foi não voltou
Sereno
Foi as ondas do mar que levou
Sereno (coro)



Que que me dão                     
Para levar                    
Pra dona Janaina lá no fundo do mar
Dente de osso
Laço de fita
Pra dona Janaina
Que e moça bonita


Êh nana êh êh Nagô
Êh nana êh a rede puxar coro

Ê puxa a rede Caimam
A  rede  puxar
Ê puxar lá que eu puxo cá
A  rede  puxar  (coro)
Ê  puxa a  rede  caimam
A  rede  puxar  (coro)
Ê  puxa cá que eu puxo lá
A  rede  puxar (coro)

Êh puxa a marra marinheiro, puxa a marra
E olha o vento que te leva pela barra

Êh  puxa a marra marinheiro puxa a marra
E olha o vento que te leva pela barra

Ê  Pisa ouro 
Com o pé Mineiro

Ihê pau ô
Bate o pau (coro)
Paulinho veio
Não veio não (coro)
Porque não veio
Sei não ........



Musicas de Maculelê 

Ê boa noite pra quem é de boa noite 
Ê bom dia pra quem é de bom dia 
Abenção meu papai abenção 
Maculelê é o rei da valentia 

Tim, dô, lêlê  auê cauisa
Tim dô lê lê é sangue real
Se ele é filho eu sou neto de Aruanda
Tim dô lê lê  auê cauisa

Cauisa de onde veio
Eu vim de Angola ê
Sarara de onde veio
Eu vim de Angola ê

Nego quando morre
Vai pra cova de bangüê
Amigo tão dizendo que urubu tem que comer
Macubabá Maculelê nego Nagô fede mais que sarigüê

Nós somos negros da caçamba de Aruanda
A conceição viemos louvar
Aruanda, ê, ê, ê, ê
Aruanda, ê, ê, ª

Maculelê nasceu na era colonial
E os negros se defendiam como podiam com um pedaço de pau
Ê, ê, ê a foi nos cantos da senzala que nasceu Maculelê

Maculelê chegou agora ele veio pra mostrar
Ele é rei la da Bahia e também um Orixá
Sou eu, sou eu
Sou eu Maculelê sou eu
Eu disse camará
Que eu vinha
Na sua aldeia
Camarada um dia

Maculelê não me mate o homem
Ele é meu compadre
Não me mate o homem

Hoje é dia de Nossa Senhora
A trovoada roncou no ar
Êh, êh, êh, êh, êh
Aruanda, êh, êh, êh  á

Sou feiticeiro, da Sapucaia
Não tem caboclo que  balança que não caia.

Você  bebeu  jurema,
Você  bebeu  jurema,
Você se embriagou
Com a flor do mesmo pau
Vós me cê se a levantou
Com a flor do mesmo pau
vos me cê se a levantou.

Maculelê  jurou vingança
Disse que a luta que ele dança é mortal
Disse também que hoje é folclore
Mais já foi luta no canavial
Ô, lê,   Maculelê
Vamos vadiar
Ô, lê, lê Maculelê
Lá no canavial

Ô Santo  Amaro terra do Maculelê
Ô Santo Amaro nunca mais vou te esquecer.

Esta  homenagem  que  eu  estou  fazendo,
Ao  preto  velho  que  morreu  de  banzo.
E  que  vieram  de  um  pais  distante,
Trazer  Maculelê,  capoeira  e  canto.
E  estes  negros  vieram  da  a  África,
E  nos  cais  do  Brasil  foram  deixados.
Foram  vendidos  como  animais,
E  muitos  deles  morreram  revoltados.
Até  Casto Alves,  foi  no  negreiro
Para  sentir  o  que  o  negro  sentia
Pois  o  seu  nome  ficou  na  história
Salve  o  poeta  filho  da  Bahia


Ô  senhor  dono  da  casa
Nós  viemos  aqui  lhe  ver
Viemos  lhe  perguntar
Como  passa  vos  me 

Como  é  seu  nome
É  Maculelê
E  de  onde  veio
È  Maculelê
  de  Santo  Amaro 
É  Maculelê
Veio  da  Bahia
É  Maculelê


Eu  sou  um  menino
Minha  mãe  soube  me  educar
Quem  anda  em  terras  alheias
Pisa  no  chão  devagar.

Eu  vim
Pela  mata  eu  vinha
Eu  vim
Pela  mata  escura
Eu  vim  ser  Maculelê
No  clarear,  no  clarear  da  lua
Te, Te, Te, Te, Te, Ta
Te, Te  ê  bom   Jesus  de  Maria

Te, Te, Te, Te, Te, Ta
Te, Te  ê  bom  Jesus  de  Maria

Te, Te, Te, Te, Te, Ta
Te, Te  ê  bom  Jesus  de  Maria

Vim  de  Angola  ê
Vim  de  Angola  a
Vim  de  Angola  ê
Sou  de  Angola  a

Vim  de  Angola  ê
Vim  de  Angola  a
Vim  de  Angola  ê
Sou  de  Angola  a

Nós  somos  negros  da  caçamba  de  Aruanda
A  Conceição  viemos  louvar
Aruanda  ê,  ê, ê
Aruanda  a,  a, a

Nós  somos  negros  da  caçamba  de  Aruanda
A  Conceição  viemos  louvar
Aruanda,  ê,  ê, ê, ê
Aruanda, a, a, a

Te, Te, Te
Te, Te, a
Te,  Te,  Tê,  ê  bom  Jesus  de  Maria
Ê  pega  pau
Pega  facão
Ê  pula  ai
Que  quero  ver
É  os  filhos  de  Zumbi
Lutando  maculelê

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017



Historias da capoeira.

Calça larga e um brinco de ouro. 

A figura do malandro capoeirista marcou a cultura brasileira do começo deste século. O folclorista Luis da Câmara Cascudo escreveu em 1916 que  "O capoeira era um individuo desconfiado e sempre prevenido. Andando nos passeios, ao aproximar-se de uma esquina, tomava imediatamente a direção do meio da rua. Havia os capoeiras de profissão, conhecido logo à primeira vista pela atitude singular do corpo, pelo andar arrevesado, pelas calças de boca larga, ou pantalona, cobrindo toda a parte anterior do pé, pela argolinha de ouro na orelha, como insignia de força e valentia, e o nunca esquecido chapéu de banda".
" Na luta, toda a atenção se concentra no olhar dos contendores, pois um golpe imprevisto, um avanço em falso, uma retirada negativa poderiam dar ganho de causa a um dos dois", afirma Cascudo. 
Na capoeira de Angola, vale mais a astúcia do que a força muscular. Seu mais célebre representante foi Vicente Ferreira Pastinha, baiano do Pelourinho, amigo do artista plástico Caribé, personagem do escritor Jorge Amado e dono de uma filosofia peculiar. "Capoeira é tudo o que a boca come", costumava dizer. "Ele ensinava a capoeira do dia-a-dia. Estava mais para religião que para brutalidade", afirma Jaime Martins dos Santos, o mestre Curió, que treinou com Pastinha desde os oito anos de idade. "Naquele tempo capoeira era coisa de arruaceiros, da malandragem. Escolhi treinar com ele porque era muito organizado e extremamente dedicado ao aluno".
O método de Pastinha, ensinado regularmente desde 1910, consiste em golpes desferidos quase que em câmara lenta. O capoeirista fica a maior parte do tempo com o corpo arqueado e sua ginga é de braços soltos, relaxadas, porque a tática era se fazer de fraco diante do oponente. "Nossos movimentos não têm pressa de chegar mais, quando chegam, é de forma harmoniosa", explica mestre Moraes, um angoleiro que se formou com mestre João Grande, o discípulo de Pastinha que hoje dá aulas em Nova York, nos Estados Unidos. "É um diálogo de corpos. Eu venço quando meu parceiro não tem mais respostas para as minhas perguntas".
* Matéria tirada da Revista Super Maio de 1996 pg.52,53


Descriminalização por decreto presidencial. 

"depois de ver uma exibição de capoeira no Rio de Janeiro, em 1937, o presidente Getúlio Vargas descriminalizou-a e decretou ser aquele o 'esporte autenticamente brasileiro'. Até então, os capoeiristas podiam pegar de dois meses a três anos de prisão, com pena de deportação no caso de estrangeiros".

Como o crime se tornou esporte. 

De 1890 a 1937, a capoeira foi crime previsto pelo Código Penal da República. Simples exercícios na rua davam até seis meses de prisão. Nesse ambiente hostil, as escolas de capoeiragem sobrevivam clandestinas nos subúrbios. Foi pra reverter esse quadro que o baiano Manoel dos Reis Machado, um angoleiro forte e valente conhecido como mestre Bimba, criou uma nova capoeira. Teve o cuidado de irar a palavra do nome da academia que fundou em 1932 em Salvador, o Centro de Cultura Física e luta Regional. Filho de um campeão de BATUQUE, uma espécie de luta-livre comum na Bahia dos século XIX, juntou técnicas de outras lutas e criou um método de ensino. Para fugir de qualquer pista quem lembrasse a origem marginalizada da capoeira, mudou alguns movimentos, eliminou a malícia da postura do capoeirista, colocando-o em pé, criou um código de ética rígido que exigia até higiene, estabeleceu o uniforme branco e se meteu até na vida privada dos alunos. "para treinar com meu pai era preciso provar que estava trabalhando ou mostrar o boletim do colégio" conta Demerval dos Santos Machado, conhecido com "Formiga" nas rodas de capoeira e organizador da Fundação mestre Bimba ao lado do irmão mestre Nenéu. 
O resultado é que , a partir daí, a capoeira começou a ganha alunos da classe média branca e, também, a se dividir. Até hoje angoleiros e reginais criticam-se mutuamente, embora se respeitem. Os primeiros se dizem guardiães da tradição, os outros acham que a capoeira "precisa evoluir". Com isso, bimba deu ares atléticos ao jogo e atraiu as mulheres, até então excluídas das rodas. "Meu pai falava de uma capoeira chamada 'Maria Doze Homens', mas era exceção", diz Mestre Nenéu. Mestre "Curió" confirma: Dos anos 40 parra os 50, poucas mulheres jogavam: 'Nega didi', 'Maria Doze Homens', 'Satanás', 'Maria Pára o Bonde', 'Calça Rala'. Embora seja angoleiro e radical defensor da moda antiga, até Curió admite que só quando a capoeira virou esporte é que as rodas ficaram mistas. Ele mesmo tem uma contra-mestre do sexo feminino: "É a 'Jararaca', diz. 

"Manoel dos Reis Machado (1900 - 1974), pai da capoeira Regional, foi o primeiro mestre com curso reconhecido no país pela Secretaria de Educação, Saúde e Assistência Pública em 1932".

 Matéria tirada da Revista Super Maio de 1996 pg.52,53


O toque dá o ritmo e manda o recado. 

Antigamente não havia música de fundo na capoeira. No máximo, quem estava por perto marcava o ritmo com um tambor. em seu fabuloso levantamento publicado em 1834, Viagem pitoresca e história ao Brasil, jean-Baptiste Debret deixou claro que os tocadores de berimbau tinham a intenção de chamar a atenção dos fregueses para o comércio dos ambulantes. Um certo Henry Koster (inglês que se radicou em Pernambuco, virou senhor de engenho e passou a ser chamado de Henrique costa) escreveu em suas anotações de 1816 que, de vez em quando, os escravos pediam licença pra dançar em frente à senzala e se divertiam ao som de objetos rudes. Um deles era o atabaque. Outro, "um grande arco com uma corda, tendo uma meia quenga de coco no meio dou uma pequena cabaça, amarrada". 
Era um instrumento de percussão trazido da África. A palavra vem do quimbundo, mbirimbau.
O que conhecemos hoje é chamado berimbau-de-barriga porque o músico leva e traz a boca de cabaça até o próprio corpo para alterar o som. Segundo o folclorista Édson Carneiro, foi neste século, e na Bahia, que o instrumento se incorporou ao jogo da capoeira, para marcar o ritmo dos praticantes. O que  define um jogo rápido ou lento é o toque, um padrão rítmico-melódico tocado e cantado. Segundo o etnógrafo Waldeloir Rego, existem 25 tipos de toque. Entre os mais tradicionais, de autoria desconhecida, estão o Angola (bem lento, para os capoeiras que gingam pertinho do chão), são Bento Pequeno (ou angola invertida, para golpes em que os oponentes chegam muito perto um do outro), São Bento Grande (para jogos mais ágeis), Cavalaria (usado nos tempos da proibição do jogo para avisar a chegada da policia), amazonas (que saúda um mestre visitante) e Banquela ( o mais lento da capoeira regional, usado para acalmar os ânimos dos combatentes). O Iúna é um exemplo de toque instrumental, criado por mestre Bimba para o jogo de capoeiras experientes. A maioria tem letra e muitas vezes quem está cantando aproveita parra comentar o jogo, improvisando versos que pedem para baixar a agressividade ou que zombam do capoeirista que não é tão bom quanto dizia. 
 Matéria tirada da Revista Super Maio de 1996 pg.54,55


terça-feira, 24 de janeiro de 2017




Formatura para Contramestre 
Paulinho Godoy
Mestre Negrito, Mestre Marzinho Capoeira, Mestre Lalico













O ESPIRITO DA CAPOEIRA

Entre os capoeiristas tem um código de lei, ou seja:


1º - Conhecer-se, dominar-se, dominar-se é triunfar.
2º - Sempre ceder para vencer.
3º - Capoeira é o que possui inteligência para compreender aquilo que lhe ensinaram, paciência para ensinar o que aprendeu e fé para acreditar naquilo que não compreende.
4º - Quem teme perder já está vencido.
5º - Somente se aproxima da perfeição quem procura com constância, sabedoria e sobretudo, com humildade.
6º - Saber cada dia um pouco mais e usá-la todos os dias para o bem é o caminho dos verdadeiros capoeira.
7º  - Quando verificares com tristeza que não sabes nada, terás feito o teu primeiro progresso na capoeira.
8º - O corpo é uma arma, cuja eficiência depende da precisão com que usa a sua inteligência.
9º - Praticar capoeira é ensinar a inteligência a pensar com velocidade e exatidão e, ao corpo, obedecer com justiça.
10º - A franqueza é suscetível, a ignorância é rancorosa, o saber e a força dão compreensão, quem compreende perdoa.
11º - O homem que domina sua mente jamais será escravo.
12º - O que parece dificuldade constitui a chance de seu progresso.
13º - Em tudo que  fizeres, põe tua esperança à frente.
         Não temas as más línguas.
         Não esmoreças, sorria sempre
         Faz-te forte, e vencerás.


quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

A História da capoeira de Sete Lagoas.
 A história da capoeira em Sete Lagoas sob a visão do Mestre Paulinho Godoy, tenta passar um pouco dos acontecimentos da mesma e seu desenvolvimento na cidade.
Passando por varias transições, a Associação de Capoeira Berimbau de Ouro é a precursora da capoeira em Sete Lagoas, mas antes de sua fundação na cidade ja existia alguns capoeiristas que vinha desenvolvendo trabalhos informais. 
Com a chegada de Mestre Marreta, Luiz Carlos Afonso, a capoeira teve um desenvolvimento mais formal, onde o mesmo implantou novas técnicas e novas metodologias de treinamento. 
Mestre Paulinho Godoy conta um pouco da historia de Sete Lagoas e um pouco de sua transição dentro da capoeira.